quarta-feira, 27 de outubro de 2010

RPG: Why so serious?


             Em minha jornada rpgística me deparei com diversas situações que, se não fossem trágicas, seriam cômicas. Alguns casos que, no meu entender, deveriam ser avaliados por especialistas da área de psicologia. Talvez até da psiquiatria.
            Está certo que quando começamos a jogar, no final da década de 1980, fazíamos parte de um grupo de teatro, e qualquer coisa era motivo para encenarmos. Mas às vezes exagerávamos.
            Durante nossas partidas intermináveis, nos embrenhávamos de tal forma na idéia da coisa, que acabávamos assumindo a personalidade do personagem que interpretávamos. Não era raro ver o nosso “bárbaro” comendo com as mãos. Ou o “mago” tentando abrir ou mover uma garrafa com encantamentos. Quando sumia algo, era só dar uma prensa no “ladrão”!!
            Mas, em algum momento, acabamos perdendo a noção da realidade e passamos a incorporar o jogo em nossa rotina diária.
            Era comum, nessa época, quando estávamos em mais de dois que participavam dos jogos, lançar dados para ver se tínhamos habilidade para atravessar uma rua. Ou pararmos numa esquina, encostados na parede, para darmos uma “olhada furtiva” para ver se não vinha nenhum inimigo.
            No princípio nos divertíamos com as caras assustadas dos demais transeuntes. Mas depois de um tempo, até mesmo nós começamos a ficar preocupados com nossas atitudes.
            Para resolver esse problema, partimos para uma solução criativa e bem teatral. Criamos uma rotina pré e pós jogo. Bem simples, por sinal!
            Quando íamos jogar, separávamos um pequeno espaço que transformamos em nosso “portal místico para jogos”. Normalmente era um sofá ou uma cadeira. O ritual consistia em andar sobre o sofá ou cadeira, da direita para a esquerda, para entrarmos no personagem e, da esquerda para direita, para sairmos do personagem. As mães normalmente não gostavam muito desse momento de nossas partidas. Basta imaginar um bando de sete caras andando em fila indiana sobre o sofá ou subindo e descendo de uma cadeira!!!!!
            A principal regra era que não podíamos sair da área do jogo “vestindo” o personagem. Portanto, cada vez que íamos ao banheiro ou a cozinha ou onde quer que fosse, tínhamos que passar pelo ritual, tanto na ida e quanto na volta. Se voltássemos para a mesa sem passar pelo ritual, não participávamos da rodada. E normalmente éramos “atacados” pelos outros participantes (tapas na nuca eram comuns na época!).
            Mas, mesmo com nossas regras de conduta, percebemos que as coisas já não eram mais iguais ao que eram quando começamos nossa aventura.
            Ficamos tão fanáticos pelo “modo de ser RPG” que passamos a realmente encarar o jogo como uma batalha. Acabamos esquecendo do principal motivo do jogo: A Diversão.
Deixamos de nos divertir. Perdemos nosso senso de humor durante as partidas. Num mundo sombrio com dragões e Ogros e toda espécie de monstros, não encontrávamos mais motivos para sermos felizes. Matamos a alegria.
            Finalmente chegou o momento em que, durante uma partida especialmente sangrenta, nós nos encaramos, deixamos os dados sobre a mesa, saímos do espaço do jogo, mandamos o sofá ou cadeira para o inferno (não foi bem o termo que usamos!), e fomos para um boteco tomar vinho. Decidimos que era mais animado e divertido!!!!
            Como diria, hoje em dia, o Coringa – Why So Sérious?


Saudações do Patriarca Gallahad!

Nenhum comentário: