sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Descobrindo o RPG

Quando fui convidado pelo Fernando, do Avengersclã.com.br, a escrever uma coluna sobre RPG, minha mente não pensou duas vezes, e dispensando o lançamento de um dado de dez lados, me levou através de um portal místico para as últimas décadas do século passado.
Mais ou menos no meio da década de 1980 nosso grupo de amigos descobriu um jogo genial que, para nós, era baseado num desenho animado e se chamava Dungeons & Dragons. O desenho animado era Caverna do Dragão. Só mais tarde ficamos sabendo que era ao contrário, o desenho era baseado no jogo.
Entendam, nós morávamos numa cidade pequena, no interior do estado de São Paulo. Onde o auge de nossa mentalidade avançada e de nosso espírito livre, consistia em fazer parte de um grupo de teatro que era marginalizado pela sociedade. Éramos os “vagabundos que fazem teatro”.
Quando nos deparamos com aquele tabuleiro quadriculado gigante e sua quase infinita possibilidade de disposições de cenários, suas histórias fantásticas sobre Cavaleiros, Ladrões, Anões, Elfos, Magos e companhia limitada! Quando encaramos a magia de lançar um dado de doze lados! Quando encaramos a possibilidade de abrir uma porta para de repente cair numa armadilha e perder metade dos pontos de vida! Ah! Isso simplesmente nos enfeitiçou de tal forma que foi impossível ficar sem jogar nossa “Aventura de Final de Semana”.
E realmente eram aventuras de finais de semana, pois começávamos os jogos na sexta feira de noite e só parávamos no domingo de tarde, ou porque findávamos a partida, ou porque já não nos agüentávamos acordados, já que durante o jogo quando dormíamos, era no máximo por três horas, “só para recarregar”. E não vou entrar no detalhe do consumo de vinho durante as partidas. É melhor não dar mal exemplo.
Nosso grupo de sete (seis Players e um Mestre), foi se aprofundando cada vez mais no espírito do jogo. Acionávamos nossos parentes que moravam na capital e nas cidades grandes para nos conseguir material para uma nova aventura. Que maravilhosa foi a sensação da compra de meu primeiro jogo completo de dados. E a inveja quase mortal da coleção de miniaturas dos personagens comprada por qualquer um dos outros do grupo. Inveja saudável, mas não muito, eu confesso!
Coisas interessantíssimas aconteciam durante nossas aventuras. Como por exemplo, o Mestre quando estava de mau humor sempre descontava sobre nossos pobres personagens. Alguém sempre morria logo na segunda ou terceira rodada.
Por outro lado, quando isso acontecia, os demais players se uniam e passavam a ignorar a presença do Mestre, até que ele resolvesse ceder a um dos personagens uma forma de trazer o companheiro morto de volta a vida. Acreditem! Isso ocorreu várias vezes.
Quando não entendíamos as loucas regras e ações estranhas do nosso bem aventurado Mestre, simplesmente partíamos para cima dele. Literalmente, nós nos jogávamos sobre ele (todos os seis!!!) e dávamos um jeito de fazer com que ele ou mudasse de idéia ou nos explicasse o que queria dizer.
Enfim, éramos jovens, destemidos, imaturos e felizes jogadores de RPG.
Lá nos primórdios dos tempos.
Daquele tempo, ainda me restam os amigos. Do personagem que criei, um Cavaleiro chamado Gallahad, ainda uso o nick em minhas andanças pela internet. E tento manter seu código de moral em minhas atitudes. Infelizmente não pude aproveitá-lo em minha fase de RPG Live, mas isso é outra história.
Bons tempos, velhos tempos!
Como disse quem me incitou a escrever esse texto, hoje sou apenas um Patriarca. Sentado em minha poltrona, assistindo as crianças e os gatos correrem pela casa.